CP16 – Sociologia da Estratificação e Desigualdades

Coordenação

Fernando T. Júnior (UFJF)
Celi Scalon (UFRJ)

A Sociologia é uma disciplina que tem como vocação a análise das mudanças sociais. É sua origem e sua tradição. Em nenhum outro campo de conhecimento o tema da transformação é tão central como nos estudos da Estratificação social e as desigualdades decorrentes. Não é possível falar em transformações sociais sem levar em consideração as mudanças nas formas de distribuição de riqueza, nos processos de alocação dos indivíduos em posições sociais e nas chances de vida que explicam os processos e dinâmicas que se traduzem em trajetórias distintas. O objetivo do Comitê de Pesquisa (CP) em Sociologia da Estratificação e Desigualdades é reunir reflexões acerca da distribuição desigual de recursos materiais e não materiais, bem como o acesso privilegiado que grupos / classes têm a esses recursos e oportunidades. Os recursos sociais são analisados em perspectiva plural, tendo em vista sua capacidade de proporcionar funcionamentos e franquear capacidades, sua valorização inflacionária em função da economia posicional e valor de escassez, o uso do tempo e disposições naturais e/ou construídas, bem como a estrutura econômica que produz e forja posições sociais assimétricas, decorrentes de processos sociais, econômicos, políticos e culturais que produzem e reproduzem desigualdades na distribuição desses recursos.

Os estudos de estratificação focam-se nas múltiplas faces das desigualdades, sua complexidade e dinâmica, bem como os mecanismos e processos que permitem compreender sua persistência ou superação. A construção do conhecimento em torno dessa área se dá no esforço de identificar não só as barreiras que se impõem à igualdade, como as estratégias de sucesso em sua promoção. Nesse sentido, é imperativo examinar as causas e consequências das desigualdades de oportunidades, através de pesquisas que revelem os principais fatores que têm impacto sobre as chances de vida dos atores sociais, entendendo que essas não são apenas individuais, mas estabelecidas em função de sua inserção e trajetória social.

O acesso privilegiado à distribuição desigual de recursos escassos afeta de forma diferenciada etnias, gêneros, espaços sócio-geográficos, classe e outras clivagens socialmente estruturadas, bem como os efeitos interativos dessas categorias na análise geral da estratificação e estruturação de trajetórias. Nesse sentido, busca-se ampliar o escopo das discussões para incorporar novos diálogos, bem como promover o desenvolvimento de estudos sociológicos inter e transdisciplinares, como reflexões acerca da Sociologia como uma ciência de populações, ciclos de vida e transições em profunda transformação social, incluindo família, percursos educacionais, trabalho e carreiras, envelhecimento, juventudes e as formas com que as sociedades engendram suas estruturas e reproduções / transformações ao longo desses processos.

Assim, um dos objetivos centrais do Comitê de Pesquisa em Sociologia da Estratificação e Desigualdades é promover a pesquisa e disseminar o conhecimento acerca da distribuição de recursos materiais e imateriais e suas correlatas forças sociais, culturais, políticas e econômicas que geram e perpetuam distribuições desiguais desses recursos. Para tanto, o Comitê de Pesquisa acolhe membros de distintas perspectivas teóricas e metodológicas, para incluir trabalhos que consideram as desigualdades a partir de distintos aspectos analíticos e de diversos contextos sociais, incentivando a pluralidade de perfis, trabalhos, argumentos, enfoques e escopos.

Pesquisas contemporâneas têm se preocupado em mostrar como, com o passar do tempo, o tema da Estratificação e, consequentemente, as desigualdades adquiriram novas perspectivas e abordagens. Nesse sentido, adotam uma reflexão crítica sobre o próprio campo, suas potencialidades, limites e novos desafios. O CP “Sociologia da Estratificação e Desigualdades” tem como principal meta aliar a tradição sociológica, em grande parte fundamentada nos estudos sobre estratificação, em especial classes sociais, com os desafios da contemporaneidade que impõe mudanças aceleradas e em escala global nas condições de vida das populações. A globalização dos mercados, o surgimento de novos atores-estado e a crescente relevância das economias emergentes, que resultam em reconfigurações geopolíticas e geoeconômicas, demandam modelos de análise, metodologias inovadoras e audácia teórica.

Ao estimular novos desafios, perspectivas, debates e formulação criativa de argumentos, espera-se fomentar a Imaginação Sociológica na direção de promover e disseminar pesquisas que também se abram ao diálogo transnacional e suas variações, característica histórica do campo em sua estruturação, desde sempre comparativa e sem fronteiras. Em especial, o CP visa receber análises das dimensões temporais da vida social, seus elementos estruturantes e formas de mensuração e análise. Desse modo, reforça o apoio à diversidade e à pluralidade, com ampla gama de perspectivas teóricas e abordagens metodológicas, tematicamente diversificadas em suas orientações.

Assim, o CP propõe consolidar um campo clássico da Sociologia, a Estratificação Social, assumindo o desafio de renová-lo a partir da compreensão de que as Desigualdades, questão central desta área de estudos, ganharam novas configurações e que as Trajetórias de distintos grupos sociais são elementos fundamentais para analisar as diferenças de oportunidades durante as diversas etapas no ciclo de vida dos atores sociais. Para tanto, insere pesquisas quantitativas e qualitativas que tenham como foco o estudo das condições de vida, dos processos de mobilidade, das trajetórias sociais e, dos determinantes da estratificação, buscando superar as análises puramente descritivas de associações entre fenômenos sociais para ousar propor categorias explicativas e novos argumentos que revelem e melhor interpretem os processos que forjam as estratificações sociais e as dinâmicas envolvidas nas relações entre eles.

Para tanto, o Comitê de Pesquisa acolhe contribuições para o debate sociológico contemporâneo sobre a Estratificação Social e as Desigualdades no século XXI, seus processos de produção e reprodução de inequidades que resultam em trajetórias distintas para os diversos grupos sociais. O debate relativo às múltiplas estratificações que estruturam as sociedades contemporâneas é atualizado e adensado com trabalhos originais que ampliam o foco para além da mensuração e associações, voltando-se para compreensão de processos sociais e sua interpretação sociológica, com consistência teórica e empírica e aprofundamento analítico. Será fomentado o debate com outros Comitês de Pesquisa e a organização de sessões conjuntas, que fortaleçam a disciplina e a capacidade analítica da contemporaneidade. Diferentes dimensões da desigualdade enriquecem o debate, em especial as perspectivas comparadas, fortalecendo a internacionalização desta área de pesquisa, em particular, e da Sociologia Brasileira, em geral. Novas abordagens e funcionamentos, como acesso à informação, urbanidade, distribuição espacial e padrões de segregação, além dos temas clássicos: desigualdades, pobreza, mobilidade e trajetórias sociais. A produção de desigualdades ao longo de ciclos de vida, com foco em trajetórias e percursos sociais de grupos / classes em diferentes etapas e transições, como juventude, vida adulta, envelhecimento são foco de atenção neste CP. Percursos coletivos em Sistemas Sociais, como escolarização e acesso a oportunidades, serão temas com especial interesse e possibilitam o diálogo com outros Grupos de Trabalho e Comitês de Pesquisa que vem se fortalecendo na última década, e trazem novas contribuições para a compreensão de trajetórias sociais, bem como sobre produção / mitigação das desigualdades de oportunidades.

Apoiadores

André Botelho (UFRJ)
André Ricardo Salata (PUCRS)
André Junqueira Caetano (PUCMG)
Danielle Cireno Fernandes (UFMG)
Flávio Carvalhaes (UFRJ)
Helena Maria Bomeny Garchet (UERJ)
Hermilio Santos (PUCRS)
José Alcides dos Santos (UFJF)
José Miguel Rasia (UFPR)
Josefa Salete Barbosa Cavalcanti (UFPE)
Maria Alice Resende de Carvalho (PUC-Rio)
Maria Carolina Tomás (PUCMG)
Richard Miskolci (UNIFESP)
Rosana Heringer (UFRJ)
Sérgio Adorno (USP)
Sonia Maria Karam Guimarães (UFRGS)
Thomas Patrick Dwyer (UNICAMP)

Comitês de Pesquisa