Vilma de Mendonça Figueiredo

Por Maria Stela Grossi Porto (UnB)

Vilma de Mendonça Figueiredo nasceu em Uberaba (1939), Minas Gerais, mas foi no Rio de Janeiro que fez sua formação inicial, com graduação em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica em 1966 e, mestrado no IUPERJ (atual IESP-UERJ), em 1971. Realizou uma especialização em Sociologia do Desenvolvimento na Université Catholique de Louvain (1965) e fez o doutorado pela George Washington University, em 1976. Em sua tese, analisou a questão do “desenvolvimento dependente brasileiro”, trabalho cuja publicação em livro, tornou-se referência para estudos e pesquisas em Sociologia do Desenvolvimento, Sociologia Econômica e outras sociologias como, por exemplo, Sociologia Rural, temática à qual se dedicou, por muito tempo, na pesquisa tanto quanto na docência. Em 1982, Vilma fez pós-doutorado em Paris, na Fondation Nacionale des Sciences Politiques.

Por sua vocação cosmopolita e aberta ao mundo usufruiu academicamente de todos os momentos vividos fora do Brasil interrogando, com o olhar penetrante e curioso, de quem faz a boa sociologia, os valores, usos e costumes das sociedades por onde passou, para daí retirar experiências, conhecimento e material para a trajetória sociológica. Exemplo desta afirmação, dos tempos vividos em Moscou, escreveu Autoritarismo e Eros: uma viagem à União Soviética, livro publicado em português e em russo, sobre as transformações da União Soviética na era Gorbachev.

Um agudo olhar sociológico conformou sua forma de conceber a vida intelectual e se refletiu na vivência acadêmica, da qual usufruíram alunos e colegas que com ela compartilharam o fazer sociológico, as pesquisas e a vida institucional.
Vilma está hoje aposentada; é Professora titular e Professora Emérita da UnB, instituição na qual passou boa parte de sua vida acadêmica, dedicada à docência, à pesquisa e à formação de gerações de sociólogos que com ela aprenderam o sentido do que seja o valor do trabalho em equipe, condição por excelência da verdadeira vida universitária. Mas ela não se ocupou apenas da área estritamente acadêmica: Vilma sempre aliou competência acadêmica à importante tarefa de construção institucional e a doses, sempre fartas, de generosidade, incentivando e dando oportunidade profissional a jovens vocações com capacidade e potencial acadêmicos. Estes foram traços marcantes de sua trajetória intelectual.

Em Brasília, na UnB, teve atuação decisiva na consolidação institucional do departamento e do curso de Ciências Sociais (atualmente separados em distintos departamentos: a Sociologia e a Antropologia, juntamente como o ELA ( Departamento de Estudos Latino Americanos), constituem o Instituto de Ciências Sociais e a Ciência Política, está em outro instituto); neste contexto, participou ativamente da constituição do programa de pós-graduação, assim como da consolidação da atividade de pesquisa.

Sob sua coordenação, e graças a sua dedicação e empenho, a área de Sociologia Rural se constituiu em uma fortíssima linha de pesquisa na Sociologia da UnB e, entre as décadas de 80 e 90, trouxe grande prestígio ao Departamento, contribuindo enormemente para o que aqui se está chamando construção institucional. Da mesma forma, teve atuação destacada na linha de pesquisa em C&T, espaço que fortaleceu por meio da articulação entre tecnologia e mundo rural, com produções que resultaram em reflexão teórica e pesquisa empírica sobre a introdução da tecnologia agropecuária no contexto da modernização conservadora, modelo de desenvolvimento que caracterizou a penetração do capitalismo no campo brasileiro. Ainda na UnB, Vilma teve papel destacado nas áreas de Teoria Sociológica e Sociologia do Conhecimento, bem como nas de Sociologia Política e Sociologia da Educação. A toda esta substantiva trajetória de atuação, imprimiu seu modus vivendi, influenciando a forma de pensar e o sentido profundo do que significa universidade e vida acadêmica, para os que com ela conviviam. Como estudantes ou como colegas.

É nesse mesmo diapasão que ressalto sua preocupação com a construção institucional que se projeta para além dos muros e do campus da UnB: atuou como consultora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- EMBRAPA-, foi membro atuante da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais -ANPOCS- tendo sido membro de sua diretoria e coordenado o GT Estado e Agricultura. Atuou como representante da sociologia na área de avaliação da Capes. Em 2001 foi homenageada com a Medalha Capes 50 Anos; entre 2001 e 2002 foi membro do Conselho Nacional de Educação. No âmbito das sociedades científicas, participou como membro do grupo que se encarregou da restauração da Sociedade Brasileira de Sociologia (cujas atividades haviam sido interrompidas pela crise institucional originada pelo golpe de 1964), e assumiu a Secretaria Geral da SBS, juntamente com o professor Gabriel Cohn, que então ocupou a Presidência (1987/1989). Em 2005 foi homenageada pela SBS com o Prêmio Florestan Fernandes instituído na gestão 2001/2003, de César Barreira. Também participou ativamente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual foi vice-presidente, entre 1995 e 2001.

Em síntese, produção acadêmica e construção institucional foram sua marca e os objetivos maiores de sua atividade intelectual. Aliás, essa articulação entre acadêmico e institucional é também marca de alguns dos formados em sua tradição, entre os quais gostaria de dizer que me incluo.

A seriedade e a excelência acadêmicas são marcas impregnadas na vida profissional de quem com ela conviveu e /ou passou por sua orientação, o que significa comprometimento com o avanço do conhecimento científico na área da Sociologia, e com a formação de novos docentes e pesquisadores.

Sugestão de obras da autora

Figueiredo, V. M Desenvolvimento Dependente Brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar Ed. 1978.

Figueiredo, V. M. A Racionalidade do Empresariado Brasileiro: Um Estudo sobre Filantropia. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1977.

Figueiredo, V. M. A produção Social da Tecnologia. São Paulo: EPU, 1989.

Figueiredo, V. M. Autoritarismo e Eros: Uma viagem à União Soviética. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1992.