Roberto Grün

Por Maria Chaves Jardim (UNESP-Araraquara)

Roberto Grün nasceu em São Paulo, em 1954. Filho de uma família judia, fez seus estudos secundários no Colégio Rio Branco. É graduado em Administração de Empresas pela FGV (1976), mestre em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo (1985) e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp (1990) com estágio de doutoramento pela EHESS-FR. É professor titular aposentado da UFSCar e professor visitante sênior na UFABC. Foi “Directeur de Recherches” na Maison des Sciences de l’Homme de Paris, “Directeur d’Etudes” na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris e ocupou a cadeira “Joaquim Nabuco Chairman in Brazilian Studies” na Universidade de Stanford, EUA. Na França e mais recentemente nos Estados Unidos, estão sua rede de pesquisa internacional.

Trata-se de um nome central quando se fala em sociologia econômica no Brasil, tomando por base de interlocução teórica a sociologia política e a sociologia da cultura, com aprofundamento analítico sobre os sentidos da ação relacional, na fronteira com as ciências cognitivas; e considerando a cultura e a sociedade como lócus empírico para entender a economia. Ao longo da sua formação, foi aluno de grandes nomes das Ciências Sociais, como Maurício Tragtemberg, Florestan Fernandes, Sergio Miceli, Pierre Bourdieu e Monique de Saint Martin.

Sua trajetória é singular pois, antes de ingressar na UFSCAR, em 1984, trabalhou no Banco Central do Brasil e em diversas empresas estrangeiras. Essa experiência como insider em uma grande instituição pública voltada à política monetária e o contato com o mercado financeiro é, em alguma medida, um marcador para questões que irão sensibilizá-lo como pesquisador.

Com um olhar provocador, contra intuitivo e sempre sustentado por dados empíricos, sua influência, apesar de central na sociologia econômica, não se restringe a ela, pois Grün influenciou outros espaços da sociologia brasileira, tais como a sociologia da cultura, sociologia política, sociologia do trabalho e sociologia das organizações, fazendo uso da importação – naquele momento, quase inédita – dos instrumentos teóricos e metodológicos da sociologia bordieusiana para estudar o mundo econômico.

Lembro sua dissertação de mestrado A produção de uma empresa moderna: Os bancários e a automação, que registrou as dimensões objetivas e simbólicas da dominação no mundo do trabalho naquele momento e que inovou ao propor um olhar simbólico para temas até então restritos a análise materialista. Aqui teve início dois vetores fundamentais de sua trajetória: a pesquisa do mundo das finanças e a pesquisa intrigada pela questão da dominação, desde a dominação nas relações de trabalho, até a dominação de grupos e especialmente elites na sociedade mais geral.

No final dos anos 1990, iniciou uma fértil agenda em sociologia econômica e das finanças, a qual desdobrou na objetivação das elites econômicas brasileiras, caracterizadas em diálogo com o campo político do pais. “A sociologia das finanças pode contribuir para esclarecer o jogo de poder no Brasil contemporâneo”. (Grün, 2004: 157), além de oferecer uma interpretação de como funcionam as convenções culturais da sociedade brasileira.

O conjunto dos seus escritos dos anos 2000 produziu as bases teóricas e empíricas para uma análise contemporânea do que Grün classifica como “capitalismo de autoajuda”. É neste momento que fica claro que o autor se utiliza do recorte dos espaços sociais e campos da economia, no sentido de Bourdieu, em diálogo com a sociologia da cultura e da sociologia política, para entender as elites que exercem influência sobre o econômico; o autor mostra que embora assimétricas na ocupação dos espaços de poder, algumas elites, como as elites sindicais, abrem margem para a confrontação e inversão contra intuitiva à inércia cognitiva estabelecida.

Em suas pesquisas mais recentes, partindo do conceito de guerras culturais e, mais especificamente da sociologia dos escândalos, o projeto analítico de Grün ganhou distinção em relação à literatura que trata dos mesmos temas, pois entende os escândalos não só como disposições, mas também como dispositivos de disputa na ação relacional. O autor torna mais robusto seu sistema interpretativo ao complementar a forte base bourdiesiana com a sociologia da crítica de Boltanski e Thévenot e a sociologia política de Michel Dobry. A pesquisa de Roberto Grün permite entender ao mesmo tempo as regularidades do espaço social e dos campos, mas também as margens para inversão do jogo por elites desfavorecidas pela inércia cognitiva no mundo econômico e das finanças.

Herdeiro da tradição de pesquisa coletiva, Roberto Grün criou e liderou desde 2000, o Núcleo de Estudos em Sociologia Econômica e das Finanças (NESEFI-UFSCar), grupo de pesquisa formado por seus alunos de mestrado e doutorado. Portanto, sua influência na sociologia brasileira, passa, também, pela formação de doutores, que se tornaram professores em universidades públicas do país (USP, Unesp, UFSCar, UFT, UFGD, UFRB, FATEC, UFS, UFPEL), transformando, em alguma medida, seu pensamento em um marcador simbólico, que tem sido produzido e reproduzido geracionalmente, com desdobramentos relevantes – já que seus alunos também já formaram inúmeros doutores – sobretudo no campo da sociologia econômica e das finanças.

Sugestões de obras do autor

GRUN, R. A produção de uma empresa moderna: os bancários e a aotumação. São Paulo: PUCSP, 1985.

GRUN, R. A sociologia das finanças e a nova geografia do poder no Brasil. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 16, n. 2.

GRUN, R. Da pizza ao impeachment: uma sociologia dos escândalos no Brasil contemporâneo, Alameda, 2018.