Maria Inês Rauter Mancuso

Por Aline Suelen Pires (UFSCar)

Maria Inês Rauter Mancuso nasceu em 1948, em Pederneiras, interior do estado de São Paulo,, porém, logo após o nascimento, passou a viver em Itirapina, cidade onde moravam os pais.

Após a formação escolar básica, embora tivesse muita facilidade com os números e desejasse entrar para o curso científico, as circunstâncias e o desejo dos pais fizeram com que ingressasse no curso de formação de professores em Rio Claro-SP. Formada professora, lecionou, por um ano, em um curso de alfabetização para adultos em Itirapina.

Disposta a prosseguir nos estudos, ingressou, em 1967, no curso de Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em Rio Claro, a qual passou a integrar a UNESP algum tempo depois. Eram os primeiros anos da ditadura militar no Brasil. Embora os movimentos de resistência à ditadura não chegassem com tanta força a Rio Claro, cultivava ideias críticas que preocupavam o pai. Por um breve período, teve aulas com José Albertino Rodrigues, assim que ele retornou da França para onde havia ido depois da demissão, por questões políticas, na Universidade de Brasília. Tais questões determinaram que ele fosse novamente afastado da Faculdade em Rio Claro. Pouco tempo depois, Maria Inês se reencontraria com Albertino, como seu orientador no mestrado em Sociologia Rural, cursado na Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (1972-1975), em Piracicaba. No mestrado, pesquisou sobre a permanência de pessoas na zona rural, contraponto aos estudos sobre a migração rural-urbana que marcavam o momento.

A partir de 1975, já em São Paulo, passou a atuar em atividades de pesquisa no SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial –, onde permaneceu por dez anos, e depois no SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

Em 1992, ingressou como docente na UFSCar – Universidade Federal de São Carlos – no recém-criado curso de Ciências Sociais. Seu propósito maior era contribuir na implementação do curso. Nesse período inicial, auxiliou a Profa. Elza de Andrade Oliveira, na época chefe do Departamento de Ciências Sociais, em diversas atividades administrativas e na recuperação e organização de um grande volume de dados resultantes das pesquisas que José Albertino, recém falecido, havia coordenado no âmbito do NPD – Núcleo de Pesquisa e Documentação. O NPD havia sido criado antes mesmo do curso de Ciências Sociais. Realizaram também, em parceria, outros estudos e pesquisas.

Passou a cursar o doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em 1995, sob orientação de Reginaldo Prandi, sem afastamento integral das atividades na UFSCar. Sua tese, defendida em 1998 e intitulada “A cidade na memória de seus velhos: estudo sobre São Carlos, Itirapina e arredores”, tinha como tema as memórias de velhos moradores e velhas moradoras sobre mudanças ocorridas no interior de São Paulo, nos primeiros setenta anos do século XX, com o rápido processo de urbanização.

Durante toda a sua trajetória enquanto docente no Departamento de Ciências Sociais e, após a divisão deste, no Departamento de Sociologia da UFSCar, Maria Inês Mancuso sempre se mostrou disposta a assumir disciplinas as mais diversas, tanto no curso de Ciências Sociais (com destaque para as disciplinas metodológicas), quanto aquelas oferecidas para outros cursos do campus, tanto na graduação, quanto na pós-graduação. Sua atuação, desde praticamente o início do curso de Ciências Sociais da UFSCar, foi fundamental para a consolidação e crescimento do curso, uma figura central com que todos – docentes, técnicos e discentes – sabiam poder contar.

Outro aspecto que se destaca em sua trajetória é o grande número de atividades de extensão que coordenou, assim como um percurso de pesquisa marcado pela relação próxima com a sociedade e pelo desenvolvimento de estudos que buscavam subsidiar ações de intervenção social. Foram diversas pesquisas que visavam o levantamento de dados sobre as condições de vida na cidade de São Carlos e em outras do interior paulista. Entre estas, se destacam: “Padrão de vida e pobreza em São Carlos”, “O mapa da pobreza” e “Cadastramento Único para Programas Sociais de Famílias abaixo do limiar da pobreza absoluta” (em São Carlos), além de estudos em municípios como Assis e Catanduva. Outro projeto que coordenou e que merece destaque é intitulado “Co-gestão da pesca no Vale do Rio São Francisco”, envolvendo uma parceria com uma instituição canadense, a participação de muitos pesquisadores de diversas áreas e uma ampla gama de atividades desenvolvidas junto à comunidade ribeirinha daquela região. A recuperação dessas experiências evidencia um compromisso, sempre presente, da necessidade de aproximar universidade e sociedade. Para Maria Inês Mancuso, nunca houve paredes entre esses dois mundos.

O diálogo constante com a sociedade também se expressou em sua longa e intensa atuação na promoção de atividades culturais no âmbito da Coordenadoria de Eventos Culturais da UFSCar e nas atividades e projetos sobre cidadania e Direitos Humanos no Núcleo de Cidadania. Tanto nas pesquisas, quanto nas atividades de extensão, Maria Inês sempre encarnou a missão – talvez a mais importante de sua trajetória – de promover a formação de pessoas. Dessa forma, nunca mediu esforços para obter financiamentos e bolsas para acolher, nos diversos projetos à frente dos quais esteve, um grande número de estudantes que participavam das várias fases da pesquisa, desde o planejamento até a análise de dados e redação de relatórios e estudos. Também orientou um grande número de pesquisas de graduação, mestrado e doutorado em temáticas as mais variadas, evidenciando capacidade e disposição para navegar pelas diversas sub-áreas da Sociologia.

Maria Inês Mancuso tornou-se Professora Titular da Universidade Federal de São Carlos em 2017, mesmo ano em que se aposentou no Departamento de Sociologia, seguindo como docente colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Seu rico e diversificado percurso evidencia uma trajetória marcada pela dedicação à formação dos estudantes, o comprometimento com a universidade pública e a consciência onipresente do compromisso junto à sociedade.

Sugestões de obras da autora:

MANCUSO, M. I. R; SILVA, Regiane Caldeira da. Típico das margens: História e cotidiano de uma produtora tradicional do bolo de arroz. In: Mariana Gonzales; Paulo Henrique Martins (org.). Imaginarios Sociales y memorias. Itinerarios da America Latina. Teseo. 2019, v.2

MANCUSO, M. I. R. Sabores migrantes na formação do Estado de São Paulo. In: MASCARO, Luciana Pelaes; CASTOR, Ricardo Silveira. (Org.). Patrimônio como paisagem. 1ed.Cuiabá: EDUFMT, 2019, v. 2, p. 382-402.

MANCUSO, M. I. R.; RAMIRO, Patrícia Alves. De volta ao campo: estratégias para se viver a pobreza. REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, v. 2, p. 2-21, 2010.

MANCUSO, M. I. R.; VALENCIO, Norma Felicidade L. S. Memórias de um rio: caminhos para a educação ambiental. Discursos: estudos de língua e cultura portuguesa, Lisboa, Portugal, v. 00, p. 155-178, 2004.

MANCUSO, M.I.R.; VALENCIO, Norma Felicidade L.S. Marias e Januárias. Mulheres de pescadores do São Francisco. In Hugo Pereira Godinho e Alexandre Lima Godinho (org.) Águas, peixe e pescadores do São Francisco de Minas Gerais. Belo Horizonte, PUC-Minas, 2003

MANCUSO, M. I. R. Memória: representação, identidade e felicidade. Cultura Vozes, Petrópolis, v. 94, n.4, p. 66-87, 2000.