Maria Ignez Silveira Paulilo

Por Amurabi de Oliveira (UFSC)

Maria Ignez Silveira Paulilo nasceu em setembro de 1950 em Getuliana, interior de São Paulo. Seus avós, paternos e maternos, eram de Piracicaba, porém seus pais viviam em Santa América, onde eram professores em uma colônia japonesa, onde ela viveu até seus quatro anos. Passou sua infância e adolescência em Ribeirão Bonito e Piracicaba. Nesta cidade ela finalizou o científico, e em meio à efervescência política vivenciada no período da ditadura militar – seus irmãos mais velhos participavam dos movimentos estudantis – decidiu seguir para as ciências sociais.

Ingressou em 1970 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, incorporada posteriormente à UNESP, Universidade Estadual Paulista. Continuou seus estudos em nível de pós-graduação no curso de mestrado oferecido pelo Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), que possuía duas áreas: Economia e Sociologia Rural[1], tendo ingressado em 1974 e defendido em 1976 a dissertação “O trabalho da mulher no meio rural”, orientada por José Albertino Rosário Rodrigues (1928-1992), sendo um dos trabalhos pioneiros sobre a realidade da mulher no meio rural.

Próximo ao final de seu mestrado foi contatada por Josefa Salete Cavalcante, na época professora da Universidade Federal da Paraíba campus de Campina Grande[2], que estava buscando pesquisadores para montar o mestrado em sociologia. Através desse contato ela foi contratada para formar a equipe pioneira do mestrado em sociologia rural, fundado em 1977. Nesta instituição entrou em contato com pesquisadoras que eram egressas do Museu Nacional, como Regina Novaes e a Giselia Potengy. Em 1979 mudou-se para Santa Catarina, por razões pessoais, primeiramente com um contrato de professora visitante, depois concursada no então Departamento de Ciências Sociais.

Em 1981 ingressou no doutorado em Antropologiano Museu Nacional, em parte influenciada pelas colegas que tinha tido em Campina Grande. Foi orientada por Otávio Velho, e defendeu sua tese em 1987, intitulada “A integração no Sul do Estado de Santa Catarina”. Parte de sua tese foi publicada em 1990 com o título “Produtor e Agroindústria: Consensos e Dissensos”.

Nos anos de 1980 Maria Ignez Paulilo já havia acumulado uma vasta experiência de trabalho de campo no Sudeste, no Nordeste e no Sul do Brasil, conhecendo profundamente a realidade rural brasileira. Sempre enfatizou sua perspectiva feminista e a necessidade de visibilizar e vocalizar as mulheres no meio rural em seus estudos. Sua tese para professora titular, defendida em 1993 deu origem ao livro “Terra à vista… E ao longe”, publicado em 1996, também considerado um relevante marco nos estudos rurais

Na Universidade Federal de Santa Catarina atuou diretamente na fundação do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política[3], e demarcou um importante espaço para a Sociologia Rural, seja através de seus cursos na graduação e na pós, seja através da formação de quadros, uma vez que orientou dezenas de dissertações e teses sobre o tema.

Em 1996 realizou estágio pós-doutoral na London School of Economics and Political Sciences, onde foi supervisionada por Anthony Hall (1947-2019), tendo sido um dos principais focos de sua investigação o acesso à terra por parte das mulheres no campo e o papel mediador do Estado. Em suas pesquisas ela chama a atenção para o fato de que as mulheres no meio rural só herdam a terra quando a propriedade já não é mais relevante. E que são feitos arranjos diversos para que isso ocorra, mesmo que a lei diga o contrário.

Em período mais recente tem se dedicado à pesquisa ligada ao Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), investigando o feminismo que emerge dessa realidade. Em 2016 publicou “Mulheres Rurais. Quatro décadas de diálogo” que reúne os resultados de suas principais pesquisas envolvendo mulheres do campo, incluindo seus trabalhos mais recentes.

Maria Ignez Paulilo é pesquisadora do CNPq, coordena o Núcleo de Estudos de Agricultura Familiar (NAF), e atua como professora no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política da UFSC. Sempre atuante na defesa da Sociologia Rural como um campo de pesquisas em Santa Catarina e no Brasil, assim como no campo dos estudos feministas.

Sugestões de obras da autora:

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. Produtor e Agroindústria: Consensos e Dissensos. Florianópolis/SC: Ed. da UFSC/ Secretaria de Estado da Cultura e do Desporto, 1990.

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. Terra à vista… e ao longe. 1. ed. Florianópolis/SC: UFSC, 1996.

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. Mulheres Rurais. Quatro décadas de diálogo. 1. ed. Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. O peso do trabalho leve. Ciência Hoje, Rio de Janeiro – RJ, v. 5, n.28, p. 64-70, 1987.

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. El género y la clase en los movimientos de mujeres agricultoras de Brasil. Agricultura, Sociedad y Desarrollo, v. 3, p. 2, 175-196, 2006.

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. Que feminismo é esse que nasce na horta?. Política & Sociedade, v. 15, p. 296-316, 2016.

PAULILO, Maria Ignez Paulilo. Feminismo camponês e popular e pós-modernismo. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 29, n. 2, p. 253, 2021.

Sobre a autora:

MARTINS, Pedro; WELTER, Tânia; CUERVO-FERNÁNDEZ, Ivón Natalia; COSTA, Suzana Morelo Vergara Martins. Entrevista –Do peso do trabalho leve à persistência da alma campesinista: entrevista com Maria Ignez Silveira Paulilo-. Percursos, v. 20, n. 43p. 215-264, 2019.

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[1]Em 1966 foi criado o mestrado em Ciências Sociais Rurais, na então 7ª Cadeira denominada Economia Rural. Com a reforma universitária de 1968, foi criado o Departamento de Economia, em substituição à 7ª Cátedra, reunindo as disciplinas das áreas de Economia, Administração Rural, Sociologia Rural e Extensão Rural da ESALQ, juntamente com os respectivos docentes. Em 1970, com a reformulação do Estatuto da Universidade de São Paulo, o departamento passou a se chamar Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. Em virtude da evolução do mestrado e das especificidades das áreas de conhecimento, em 1975 o curso foi desdobrado em dois: Economia Agrária e Sociologia Rural. Em 1981, o departamento, cuja denominação fora alterada para Departamento de Economia e Sociologia Rural em 1977, decidiu pela interrupção de seu programa de pós-graduação em Sociologia Rural, continuando apenas com o mestrado em Economia Agrária.

[2] Em 2002 os campi de Campina Grande, Patos, Sousa e Cajazeiras desmembraram-se da UFPB, dando origem à Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
[3] Em 1978 foi fundado o mestrado em Ciências Sociais na UFSC, dando origem ao mestrado em Sociologia Política em 1985, que passou a contar com um doutorado em 1999. A partir de 2019 o programa passou a se denominar Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política.