Marcia de Paula Leite

Por Raquel Duaibs (Fatec Itaquera-SP)

Nascida em 1948 na cidade de São Paulo, Marcia de Paula Leite vem colaborando há quase 50 anos para as Ciências Sociais, desenvolvendo pesquisas nacionais e internacionais, em áreas como trabalho, gênero e sindicatos e automação. Sempre comprometida com a pesquisa e o ensino, é uma profissional que faz jus ao reconhecimento acadêmico que possui, tanto por seus achados científicos, quanto por sua contribuição na formação de educadores, sociólogos e cientistas sociais.

Iniciou seu percurso acadêmico em 1968, quando ingressou no curso de graduação em Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP). Passou a dedicar-se à Sociologia do Trabalho ainda no mestrado, com um olhar dirigido ao movimento grevista e sindical brasileiro. Defendeu sua dissertação em Ciência Política na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no ano de 1983, sob o título: “Sindicatos e trabalhadores na crise do populismo”, e o doutorado em Sociologia na USP (1990), sob a orientação do Prof. Leôncio Martins Rodrigues, intitulado “A vivência operária da automação microeletrônica”. Mas entre o mestrado e o doutorado, Marcia já tinha realizado uma série de experiências relevantes em sua recente carreira acadêmica: fora professora de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) entre 1980 e 1988, pesquisadora sênior do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) entre 1983 e 1985, técnica de pesquisa plena da Fundação SEADE (1986 – 1987), bem como professora titular e vice-diretora da Escola de Sociologia e Política (FESPSP) entre 1978 e 1984. Em 1988, antes mesmo de defender o doutorado foi aprovada no concurso da Unicamp como professora de Sociologia na Faculdade de Educação.

Ainda nos anos 1980, Marcia começou a integrar redes de estudos latino-americanos, como o grupo de Movimientos Laborales, do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso), a Red Latinoamericana de Educación y Trabajo e a Red Latinoamericana de Trabajo y Tecnología e, juntamente com os pesquisadores dessas redes, esteve na fundação da Asociación Latinoamericana de Sociología del Trabajo (ALAST), no I Congresso Latinoamericano de Sociología del Trabajo, realizado em 1993, na Cidade do México. Em 1996, como representante brasileira na ALAST esteve à frente da organização do II Congresso da Associação, realizado em Águas de Lindóia, e entre 1997 e 2000 foi co-editora da Revista Latino-americana de Estudos do Trabalho. Em 2010 foi eleita presidenta da Associação, já então denominada de Associação Latino-americana de Estudos do Trabalho e, como tal, organizou o VII Congresso, realizado em 2013, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em São Paulo.

Em 1995, realizou pós-doutoramento no Reino Unido, no Institute of Development Studies (IDS) da University of Sussex, para o qual obteve financiamento do CNPQ. Já em 1998, realizou seu segundo pós-doc, desta vez nos Estados Unidos, no Institute of Latin American and Iberian Studies (ILAIS) da Columbia University, com financiamento pela Fapesp. Marcia Leite tem demonstrado, ao longo de sua carreira, uma relação íntima e confortável com a pesquisa, o que lhe gerou bons frutos. Seus dois primeiros livros, “O movimento grevista no Brasil” (1987) e “O que é greve?” (1988), foram publicados ainda no início da carreira. Entre o final da década de 80 e o início desta década de 2020 ela não parou de publicar, sendo seu último livro publicado em 2020, sob o título “O trabalho em Crise: Flexibilidade e Precariedades”, organizado em conjunto com outros colegas da Sociologia do Trabalho.
Entre tantos feitos, também é importante destacar seus estudos sobre o processo de trabalho e a vivência dos trabalhadores sobre a automação (“O futuro do trabalho: novas tecnologias e subjetividade operária”, livro publicado em 1994), e o processo de reestruturação produtiva no Brasil (Trabalho e Sociedade em Transformação, livro publicado em 2003), no qual inovou na discussão dos processos de terceirização e a relação entre empresas da cadeia automobilística. Em adição, é preciso mencionar que Leite foi pesquisadora do Cebrap (2001 – 2005), onde coordenou um projeto sobre desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho, a partir de pedido da Prefeitura de Santo André, então governada pelo prefeito Celso Daniel; assim como foi professora visitante na Universidad Autónoma Metropolitana (Unidade Iztapalapa), no México, ministrando aulas de Sociologia na pós-graduação em 2002.

Em sua trajetória, Marcia Leite se tornou pesquisadora 1A do CNPq, participou da organização e coordenação de vários projetos de pesquisa, entre os quais se destacam: Qualificação e Produção (1995-2000) realizado no Centro de Estudos de Educação e Sociedade (Cedes); Projeto temático da Fapesp (2007-2011): Cooperativas, trabalho associado e Economia Solidária; Projeto temático da Fapesp (2012-2017): Contradições do trabalho no Brasil, sobre mercado de trabalho e regulação do trabalho; Projeto realizado para o Clacso (2019-2020): Implicações da reforma trabalhista sobre as mulheres. Participou ainda, desde 2002, de vários projetos pelo acordo Capes/Cofecub, entre a Faculdade de Educação da Unicamp e o Laboratoire Genre, Travail et Mobilité (GTM) do Centre National de Recherches Scientifiques (CNRS).

Após construir este legado para as Ciências Sociais e, em especial, para a Sociologia do Trabalho, Marcia Leite se aposentou da Unicamp em 2010. Continuou colaborando com os Programas de pós-graduação em Educação e de Doutorado em Ciências Sociais da Universidade. Desde 2019 vive na Cidade do México, onde foi nomeada para a cátedra Friedrich Engels da Universidad Autónoma Metropolitana, Unidade Cuajimalpa (UAM-Cuajimalpa).

Sugestões de obra da autora:

LEITE, M.P.; C. SALAS; M. BIAVASCHI; J. D. KRIEN. (Orgs.). Trabalho e regulação em perspectiva comparada. 1ed. São Carlos: Editora da Universidade Federal de São Carlos, 2017, v. 1.

LEITE, M. P. Trabalho e sociedade em transformação. Mudanças produtivas e atores sociais. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003.

LEITE, M. P. O Futuro do Trabalho. Novas Tecnologias e Subjetividade Operária. 01. ed. São Paulo: Scritta, 1994. v. 01. 331p.

LEITE, M. P. O que é greve. 02. ed. São Paulo: Brasiliense. Coleção Primeiros Passos, 1988. v. 01. 85p.

LEITE, M. P. O Movimento grevista no Brasil. 02. ed. São Paulo: Brasiliense. Coleção Tudo é história, 1987. v. 01. 76p.