Liliana Segnini

Por Marcos Roberto Mariano Pina (UNICAMP)

Liliana Rolfsen Petrilli Segnini nasceu em Araraquara, do interior do estado de São Paulo, em 10 de dezembro de 1949. Iniciou os estudos superiores em 1969 em Administração na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas de Araraquara, formando-se em 1971. A continuidade da sua trajetória acadêmica ocorreu na cidade de São Paulo, primeiro no mestrado em Administração da Pontifícia Universidade Católica, defendido em 1978, e depois no doutorado em Ciências Sociais na mesma instituição, finalizado em 1987.

A dissertação de mestrado analisou as formas assumidas de controle sobre os trabalhadores ferroviários na passagem do trabalho escravo para o trabalho livre, no final do século XIX e início do século XX. No doutorado analisou as relações de trabalho no setor financeiro. Vale ressaltar que ambos os projetos foram desenvolvidos sob orientação do professor Maurício Tragtenberg, um dos autores pioneiros no aporte da crítica marxista ao campo da administração, partindo do debate sobre questões clássicas das ciências sociais, como dominação e burocracia.

No periodo entre 1978 e 1988 ingressou na atividade docente como professora na Faculdade de Economia e Administração da PUC São Paulo. Em 1985, grávida do terceiro filho, foi aprovada no primeiro concurso público realizado para provimento de vagas no ensino superior na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, até então ocupadas mediante indicação. O seu contrato foi efetivado apenas em 1988. Desde então vêm coordenando diversos projetos de pesquisa e ministrando disciplinas na graduação e pós-graduação.

Já como professora na UNICAMP participou, junto de outros especialistas convidados, do esforço de atualização da Classificação Brasileira de Ocupações, que estava incorporando então mais de 500 novas atividades às suas bases de dados oficiais. Ficou responsável pela elaboração da descrição das ocupações do campo da cultura, tema que se tornaria eixo central das suas análises subsequentes. É depois dessa demanda que se debruçou com mais ênfase sobre questões vinculadas ao trabalho artístico e musical.

Na França, em 1982, cursou um periodo de estagio sanduíche com financiamento do CNPq, convidada pelo filósofo Claude Lefort. Nesse período, foi aluna de intelectuais conhecidos, como Michael Löwy, Pierre Villar e Michel Foucault, que contribuíram sobremaneira na sua formação sociológica. No Brasil, além de Tragtenberg, Liliana contou com o apoio de Octávio Ianni, que foi professor e colega na PUCSP. O livro “O que é mercadoria?” (Editora Brasiliense, 1983) resulta de um trabalho final elaborado para uma disciplina de Ianni.

Entre os objetos de estudo com os quais tem se ocupado desde então figuram as relações entre gênero, trabalho, migrações e cultura, tornando-se uma referência no assunto. Outro aspecto importante da sua trajetória está na interlocução internacional, sobretudo, com laboratórios e grupos de pesquisa na França. Foi nesse país onde desenvolveu dois estágios de pós-doutorado, primeiro na Université de Paris X, em Nanterre, de 1997 à 1998; e depois no Centre National de la Recherche Scientifique, de 2002 à 2003.

Um ano antes da realização do primeiro pós-doutorado na França, em 1996, se tornou professora livre-docente na Faculdade de Educação da UNICAMP, desenvolvendo uma pesquisa sobre os impactos das mudanças tecnológicas nas relações de trabalho e gênero, onde atualizou dados dos estudos precedentes sobre os trabalhadores bancários em São Paulo. Os resultados serviram de base para um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, focando no processo de terceirização no setor.

Entre 2000 e 2004 coordenou um projeto inscrito no Acordo CAPES/COFECUB junto ao Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil, considerado um dos mais antigos acordos de intercâmbio científico da CAPES. O estudo comparativo entre França e Brasil priorizou as dinâmicas de racionalização e flexibilização do mundo do trabalho, e as trajetórias de formação educacional, como campos de observações propícios para pensar as mudanças ocorridas nas últimas décadas nas relações de trabalho e emprego.

No âmbito da sua profícua relação de parcerias internacionais, ainda em 2003, foi convidada para atuar como pesquisadora associada no Centre de Recherches Sociologiques et Politiques de Paris, CRESSPA, inicialmente como membro da equipe Genre, Travail et Mobilités. Dois anos depois, em 2005, foi selecionada como Professora Visitante no Instituto Universitário de Lisboa, ocupando a Cátedra Brasil-Portugal em Ciências Sociais, ministrando em dezembro de 2005 uma aula magna intitulada “Aspectos Sociais do Brasil Contemporâneo”.

A trajetória acadêmica de Liliana Segnini foi marcada pelo interesse aos temas do trabalho, gênero, cultura e ocupações artísticas, contribuindo para atualização dos debates contemporâneos da sociologia do trabalho. Foi agraciada pela Reitoria da UNICAMP em 2004 com o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz. Em 2011 se aposentou pela mesma instituição, porém mantendo vínculo de professora colaboradora, o que lhe permitiu seguir realizando orientações e ministrando disciplinas no IFCH e na Faculdade de Educação.

Sugestão de obras da autora:

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Accords dissonants: rapports salariaux et rapports sociaux de sexe dans des orchestres . In Cahiers du Genre, n. 40, p. 137, Paris, L’Harmattan, 2006.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Rapport de genre dans les professions artistiques au Brésil et en France. In: MARUANI, Margaret ; HIRATA, Helena ; LOMBARDI, Maria Rosa (Dir.). Travail et genre: regards croisés France/Europe, Amérique Latine. Paris: Editions La Découverte. p. 225-236, 2008.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Políticas públicas e mercado de trabalho no campo da cultura. IN: Leite, Márcia de Paula e Araújo, Angela Maria Carneiro. O trabalho reconfigurado. Ensaios sobre Brasil e México. Coleção Trabalho e Contemporaneidade. São Paulo; Annablume. p. 95 a 121, 2009.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Vivências heterogêneas do trabalho precário: homens e mulheres, profissionais da música e da dança, Paris e São Paulo. In: GUIMARÃES, Nadya; HIRATA, Helena; SUGITA, Kurumi ( Coord.). Trabalho flexível, empregos precários? Uma comparação Brasil, França e Japão. São Paulo, EDUSP. p. 100 a 110, 2010. (Prêmio Jabuti – 2010 – Categoria: Melhor livro de Economia, Administração e Negócios.Câmara Brasileira do Livro).

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli.”Au Brésil: penser et travailler la liberté”. In: KERGOAT, Danièle; DUNEZAT, X.; HEINEN, J.; HIRATA, H.; PFEFFERKORN, R. (Coord). Travail et rapports sociaux de sexe. Paris: La Dispute. p.171-179, 2010.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli.Questions sur les carrières des femmes musiciennes. In: GUIMARAES, N; MARUANI, M; SORJ, B (orgs). Genre, race, classe. Travailler en France et au Brésil. “Logiques Sociales”. Paris: L’Harmattan, 2016. p. 221 – 233.