José de Ribamar Chaves Caldeira

Por Juarez Lopes de Carvalho Filho (UFMA)

Nascido em 21 de julho de 1940, na cidade de Pedreiras, Maranhão, na região do Médio Mearim, José de Ribamar Chaves Caldeira era filho de José dos Reis Caldeira (dono de usina de beneficiamento de arroz, coco babaçu e algodão), também nascido em Pedreiras, e de Maria Chaves Caldeira, nascida em Barra do Corda-MA. Tinha dois irmãos, sendo Maria da Paz Caldeira Cavalcanti (Assistente social) e Pedro Chaves Caldeira (Engenheiro civil, falecido em julho de 2021). Ribamar Caldeira foi casado com Marlene de Castro Caldeira (formada em filosofia), de cujo casamento nasceram: Mário Henrique de Castro Caldeira (doutor em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade de São Paulo-USP), João Ricardo de Castro Caldeira (doutor em História Social, pela USP), Luis Antônio de Castro Caldeira (bacharel em Comunicação social pela Fundação Armando Alves Penteado-FAAP) e Maria Eugênia de Castro Caldeira (formada em Pedagogia, professora na rede pública de ensino em São Paulo). Ribamar Chaves Caldeira faleceu em São Luís, onde foi sepultado, no dia 23 de julho de 2003, quando apenas completara 63 anos[1].

José de Ribamar Chaves Caldeira fez seus estudos primários em Pedreiras, na escola Municipal Oscar Galvão. Em São Luís do Maranhão (capital do Estado) estudou no antigo ginásio e o científico, no tradicional Colégio São Luís (colégio particular, hoje extinto), fundado pelo prof. Luiz de Moraes Rêgo. Graduou-se em Ciências Sociais (Bacharelado) na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, no ano de 1966. Fez mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, com dissertação defendida em 1982, tendo como título: As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30, orientada por Caio Navarro de Toledo; e doutorou-se em Sociologia pela USP, com a tese “Origens das indústrias no sistema agroexportador maranhense (1875-1895)”, em 1989, sob a orientação de Maria Isaura Pereira de Queiroz.

A estadia em São Paulo durante seus longos estudos de graduação e pós-graduação, em prestigiosas instituições de ensino superior do país, permitiu o sociólogo maranhense em formação, tecer fortes laços amistosos e intelectuais com Maria Hermínia Tavares de Almeida, Carlos Estevam Martins, Luiz Werneck Vianna, Sônia Draibe, Carlos Navarro, Evelina Dagnino, Décio Saes e Maria Isaura Pereira de Queiroz, por exemplo, importantes para sua sólida formação acadêmica e científica.

Ribamar Caldeira ingressou no Magistério superior em 1971, através de concurso público, na Universidade Federal do Maranhão. Pertencia ao Departamento de Sociologia e Antropologia, fundado entre 1970/1972 num contexto da implantação no estado da indústria minero-metalúrgica, mas cujo curso de Ciências Sociais só foi criado em 1986, devido ao regime militar. Desse modo, foi um dos professores responsáveis pela fundação e consolidação desta unidade. Foi sociólogo no Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES), predecessor do hoje Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), órgão do governo maranhense. Foi também membro da Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira nº 8, cujo patrono é Joaquim Gomes de Souza, também ocupada por Jerônimo de Viveiros (referência na história econômica e do comércio do Maranhão), tendo posteriormente o economista Lino Antônio Raposo Moreira como titular. Publicou vários artigos e livros, entre os quais se destacam: “A ANL no Maranhão” (1990); “O Maranhão na literatura dos viajantes do século XIX” (1991); “A criança e a mulher Tupinambá” (2000); “Dois estudos: os discursos de Japi-açu e Momboré-uauçu e Vadiagem no Maranhão, 1800-1850” (2004). Como se vê, sua obra transitou nas áreas de História, Economia Regional, Sociologia, Antropologia e Ciência Política.

Na dissertação de mestrado sobre as Interventorias no Maranhão no pós-1930, a análise do processo desse período, ensejou averiguar como ocorreu a tentativa de supressão da dominação política oligárquica (pré-burguesa) num Estado onde não existia uma classe burguesa econômica e politicamente poderosa, com condições materiais e políticas para enfrentar as oligarquias e dar sustentação política ao pequeno grupo que, imediatamente passou a controlar o aparelho de estado. Assim, segundo Caldeira, quando  o grupo (formado por agentes da extração social média) passou a controlar o aparelho de estado optou por reformas administrativas e políticas pelas seguintes razões: a deficiência econômica do estado, que impedia a introdução de mecanismos capaz de superar as formas pré-capitalistas de produção predominantes no Maranhão; e a inexistência  de uma burguesia economicamente capacitada para participar do processo de transformação econômica do estado.

Como desdobramento e aprofundamento dessa pesquisa, Caldeira produziu um opúsculo no qual analisa o movimento Aliança Nacional Libertadora (ANL), formado por uma frente liderada pelos comunistas da qual participaram setores da burguesia, pequena burguesia, classes médias, proletários urbanos, militares, partidos de esquerda, ocorrido no Brasil em 1935, num contexto de grande instabilidade política. No Maranhão, a ANL constituiu o prosseguimento dos movimentos coordenados pelo PCB na região, arregimentando razoável número de adeptos extraídos das classes médias de São Luís, maior centro urbano, onde se concentrou a atuação do movimento, significando apoio às propostas da ANL, que continha indicações com as quais se identificaram ideologicamente.

Na tese de doutorado fez um estudo microssociológico da instalação de um parque fabril em região do nordeste brasileiro no final do séc. XIX. Nesse trabalho ele analisa a gênese social da indústria têxtil brasileira articulada à industrialização europeia e às condições da formação do capitalismo brasileiro atrelado ao mercado internacional agroexportador. Caldeira  enfatiza que a instalação de fábricas em regiões distantes umas das outras, e com pouca ligação entre elas, conduziu à formação de parques fabris regionais tornando o parque fabril nacional um arquipélago de indústrias concentrados em pontos isolados. Contudo, o crescimento fabril do final do séc. XIX seria apreendido como um processo de industrialização descentralizado. De todo modo, as indústrias do têxtil aparecem no Estado, como uma estratégia a fim de evitar o declínio completo da economia, como foi o caso da instalação de “engenhos centrais”.

É importante destacar ainda seu estudo “O Maranhão na literatura dos viajantes no sec. XIX”, no qual buscou “averiguar o modo como se acham descritos o meio social, a economia, as estruturas de poder e as relações políticas, movimentos revolucionários, a escravidão e as sociedades indígenas do Maranhão do séc. XIX, na denominada literatura dos viajantes”. Apesar de as obras dos viajantes serem consideradas excelentes fontes de conhecimento do país daquele período, Caldeira pondera, após uma leitura acurada dessa literatura, que as informações nelas contidas não devem ter uma confiabilidade irrestrita, devendo as mesmas ser comparadas entre si e cotejadas com as informações de outras fontes. No caso do Maranhão, segundo ele, a reputação é algo exagerado, em que pese o relativamente pequeno número dos que passaram pela região. O que não significa que essa literatura não deva ser consultada para a compreensão do mundo social maranhense.

José de Ribamar Chaves Caldeira é considerado um pioneiro da sociologia no Maranhão. Sua obra de grande erudição é considerada uma importante contribuição para a compreensão e análise dos processos da formação da história social, econômica, política e cultural do Maranhão. Como destacou Lino Antônio Raposo Moreira no discurso de posse na AML, “Caldeira foi um homem da ciência, professor universitário de muita dedicação ao ensino, pesquisador determinado, disciplinado e entusiasmado com seu trabalho, atitude indispensável para bem realizá-lo, seguro de seus conhecimentos e de suas convicções, das quais não abria mão por conveniências de qualquer natureza, mas aberto à discussão franca e honesta. Esteve sempre atualizado com os avanços no seu campo de estudo e tinha uma visão crítica do mundo moderno e de suas forças potencialmente alienantes e desumanizantes. Transitou entre duas tradições sociológicas, a weberiana e a marxista que, apesar de divergentes não são, de fato, antagônicas”.

Sugestões de obras do autor:

CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. A ANL no Maranhão. São Luís: EDUFMA, 1990.

CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. O Maranhão na literatura dos viajantes do século XIX. São Luís: AML/SIORGE, 1991.

CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. A criança e a mulher Tupinambá. São Paulo: SCORTECCI EDITORA, 2000.

CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. Dois estudos: os discursos de Japi-açu e Momboré-uauçu e Vadiagem no Maranhão, 1800-1850: São Luis: EDUFMA, 2004.

[1] Agradeço a Ana Cristina Cavalcanti da Costa, sobrinha do Prof. José de Ribamar Chaves Caldeira, pelas preciosas informações concedidas sobre as origens e os vínculos familiares do nosso biografado.