Iracema Brandão Guimarães

Por Licia Maria Souza dos Santos (UEFS)

Iracema Brandão Guimarães nasceu em Salvador no ano de 1950, e sua trajetória intelectual tem início com a sua entrada no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia, no ano de 1969, período da ditadura militar no qual o contexto de resistência influenciou na escolha do curso, que também passava por um período de grande expansão de oferta de vagas. Ainda como estudante teve a oportunidade de conviver com grandes mestres como Vivaldo da Costa Lima, Pedro Agostinho da Silva, Zahidé M Neto, Maria Brandão e Inaiá Carvalho, e participou desde os anos 1970 de várias pesquisas no Programa de Recursos Humanos, hoje CRH, Centro de Pesquisa e Humanidades, órgão suplementar da UFBA sediado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

Nos anos setenta se tornou mãe, teve dois filhos, e em 1979 ingressou no Mestrado em Ciências Sociais da UFBA, defendendo a dissertação intitulada “Mulheres Assalariadas: os fatores ideológicos da emancipação feminina”, sob a orientação de Zahidé Machado Neto. Ainda em 1979, através de concurso, ingressou como docente no departamento de Sociologia da UFBA no qual permaneceu até o ano de 2019 construindo sua trajetória intelectual. Entre os anos de 1982 e 1984, através de licença sem vencimentos da UFBA, viveu nos EUA, na cidade de Wisconsin, quando frequentou cursos livres na área de estudos sobre classes sociais e estudos de gênero.

Ingressou no Programa de Doutorado na USP, Universidade de São Paulo, no ano de 1991, e teve aulas e contatos com professores como Elizabeth Souza Lobo, Helena Hirata, Francisco de Oliveira, Sergio Miceli, Maria Arminda Arruda, Maria Celia Paoli, Vera Telles, e Lilia Montali, entre outros. Seu doutoramento foi concluído em 1994 com a tese “Dimensões de um mundo próprio de trabalhadores: família, gênero e sociabilidade”, com a realização de um estudo sobre a classe operária e o novo sindicalismo, sob orientação de Maria Celia Paoli.

Iracema Guimarães tem acumulado um aporte de pesquisa em áreas importantes das Ciências Sociais, com destaque para o modo de pensar o processo de reprodução social e abordagens sobre a família, relações de gênero e de trabalho, temas já presentes na citada dissertação de mestrado, e que tiveram continuidade no doutorado, bem como no desenvolvimento de projetos de pesquisa em bairros populares de Salvador, nos quais analisa as estratégias de sobrevivência e a sociabilidade de famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade. A partir das pesquisas nos bairros e trabalhos de extensão, e sua íntima relação com as teorias sobre o processo de produção e reprodução social, direciona seu interesse para questões ligadas ao processo de urbanização, mantendo os temas da transversalidade de gênero, além de classe e trabalho.

Ingressando como pesquisadora associada no CRH, Centro de Pesquisa e Humanidades da UFBA, desde 1975 tem participado de projetos geralmente apoiados por instituições e setores dos governos municipal e estadual, juntamente com toda a equipe, e em seguida, com seus projetos próprios aprovados no CNPQ desde os anos 1990. Assumiu a direção do Centro no período de 2009 a 2011, e tornou-se editora cientifica da Revista Caderno CRH desde 2016. Ao longo da sua trajetória assumiu também outros cargos administrativos como a Coordenação do Mestrado em Ciências Sociais/UFBA de 1994 a 1996 e uma segunda gestão como coordenadora da Pós-Graduação em Ciências Sociais no período 2003 a 2005. Tornou-se ainda professora do Programa de Estudos Interdisciplinares de Gênero /NEIM.

Sua contribuição para a pesquisa sociológica revela-se também a partir da atuação em grupos de pesquisa de associações científicas, como a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, ANPOCS, a Associação Brasileira de Estudos Populacionais, ABEP, e a Sociedade Brasileira de Sociologia, SBS. Na ANPOCS e ABEP participou durante anos de grupos como o GT Família e Sociedade e de outros na área de trabalho. Na SBS integrou a coordenação do Grupo de Trabalho “Cidades” e permanece na co-coordenação do Comitê de Pesquisa em Sociologia Urbana, juntamente com Lucia Bógus. Ocupou cargos na Diretoria tendo sido segunda vice-presidente no período de 2019 a 2021.

Durante toda sua trajetória manteve-se atuante na graduação e pós-graduação, tendo vinte e duas orientações de mestrado concluídas e cinco de doutorado, além de quatro teses em andamento, participando de trinta e uma bancas de mestrado e treze de doutorado, o que indica a sua contribuição para a formação de futuros profissionais. Realizou concurso para professora titular em 2015 permanecendo como professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia, além de pesquisadora no CRH e do CNPQ.

Sugestões de obras da autora:

BOGUS, Lúcia; GUIMARÃES, Iracema Brandão; PESSOA, Zoraide Souza (Orgs.). Cidades brasileiras: temas e questões para debate. 1. ed. São Paulo: EDUC / SBS, 2020. v. 1. 367p.

BOGUS, Lucia.; GUIMARÃES, Iracema Brandão; PESSOA, Zoraide Souza (Orgs.). Cidades no século XXI temas para debate. 1. ed. São Paulo: EDUC, 2018. v. 1. 102p.

GUIMARÃES, Iracema Brandão. Reprodução e trabalho. In: Anete Brito Leal Ivo. (Org.). Dicionário Desenvolvimento e Questão Social: 110 problemáticas contemporâneas. 2ed.São Paulo: Annablume, 2020, v. 1, p. 1-5.

GUIMARÃES, Iracema Brandão. Dinâmica urbana e contextos de periferização: tendências e cenários sociais locais. In: GLEDHILL J.; HITA, M G; PERELMAN, M. (Orgs.). Disputas em torno do espaço urbano: processos de [re]produção/construção e apropriação da cidade. 2ed.Salvador: EDUFBA, 2020, v. 1, p. 155-165.

GUIMARÃES, Iracema Brandão.; CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de; BOGUS, L. Entre os Estudos Urbanos e a Sociologia Urbana. REVISTA BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA, v. 6, p. 200-221, 2018.

GUIMARÃES, Iracema Brandão.. A Periferia, a casa e a rua: limites difusos na cidade. In: Alinne Bonetti; Ângela Freire. (Org.). Gênero, Mulheres e Feminismo. 14 ed.. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 113-128.

GUIMARÃES, Iracema Brandão. Gênero e Trabalho: Desafios da Intervenção nas Atividades Informais. In: ALVES; Ívia ET ALLI. (Org.). Travessias de Gênero na Perspectiva Feminista. Salvador: EDUFBA, 2010, p. 15-32.

GUIMARÃES, Iracema Brandão.. Sociabilidade e sobrevivência em populações pobres. In: Elisete Passos; Ivia Alves; Marcia Macedo. (Org.). Coleção Baiana 3 – Mulher e Gênero na Bahia. Salvador: EDUFBA, 1998, v. 03, p. 73-86.