Fernando Correia Dias

Por Mariza Veloso (UnB)

Fernando Correia Dias tem sua biografia gravada na história do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília – UnB, onde exerceu por mais de 20 anos, com profundo conhecimento e muita generosidade, as funções de professor, pesquisador e orientador.

Nasceu em Três Pontas, Sul de Minas Gerais, em 7 de fevereiro de 1926 e morreu em Lagoa Santa, região metropolitana de Belo Horizonte, em 7 de setembro de 2012.

Foi professor da UFMG e da UnB. É autor de significativa obra que transita em diferentes vertentes de pesquisa, como pensamento social, a sociologia da cultura, da educação e da comunicação, disciplinas que introduziu e consolidou no Departamento de Sociologia da UnB.

Professor Fernando chega a Belo Horizonte na década de 1940, quando iniciou no jornalismo, trabalhando na Folha de Minas; nessa ocasião, ao lado de José Maria Rabelo, Hélio Peregrino, Palmius Paixão Carneiro, dentre outros, participou da fundação do Partido Socialista Brasileiro, em Minas Gerais.

Formado em Direito e em Sociologia, dedicou-se com intensidade ao ensino e à pesquisa em Ciências Sociais tanto em Belo Horizonte quanto em Brasília, onde residiu de 1968 a 1991. Professor aposentado da UnB, retornou a Minas Gerais – seu território afetivo e lugar privilegiado de suas investigações empíricas.

Sua carreira acadêmica teve início na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, onde foi aluno e, tornou-se professor em 1965, assumindo a disciplina de Sociologia Geral no curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências Econômicas.

Em 1968, foi convidado pelo então Reitor da UnB, Dr. Caio Benjamim Dias para ingressar como professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Brasília, onde construiu uma carreira plena e luminosa.

No início da década de 1970, tornou-se o primeiro Decano de Extensão da UnB. Em 1989, recebeu o título de Professor Emérito da Universidade de Brasília. Foi também um dos primeiros sociólogos brasileiros a receber o Prêmio Florestan Fernandes, criado em 2003 pela Sociedade Brasileira de Sociologia.

Fernando Correia Dias foi um pioneiro, um desbravador permanente de novas possibilidades investigativas e interpretativas, próximas de autores como Lucien Goldmann, Karl Mannheim dentre outros que lhe permitiram observar e compreender sociologicamente fenômenos relativos às construções simbólicas, focando nos discursos sobre a Nação e a cultura, e tendo como princípio metodológico observar as instituições culturais e científicas que dão suporte a estas manifestações. Dedicou especial atenção às redes de relação entre intelectuais e artistas brasileiros com o campo intelectual em que atuavam.
Estudou de forma inovadora o Modernismo mineiro e sua relação com o Barroco. Estudou também políticos e intelectuais proponentes e simpatizantes da Escola Nova, movimento que defendia mudanças no sistema educacional ocorrido nas décadas de 1920 e 1930, e deu especial atenção aos educadores mineiros que participaram dessas discussões.

Suas pesquisas sobre o Modernismo impulsionaram sua permanente interrogação sobre como seria possível desvendar a lógica própria à matriz discursiva dos intelectuais modernistas em relação à dinâmica cultural brasileira.

Seus trabalhos, livros, ensaios e artigos são hoje referências importantes sobre o Modernismo mineiro assim como sobre a relação deste com a temática do Barroco, conforme seu artigo, hoje clássico, intitulado “A descoberta do Barroco pelo Movimento Modernista”.

Além de sua obstinação enquanto pesquisador, publicou livros, ensaios e artigos sobre temas diferenciados, introduzindo novas perspectivas analíticas em torno da Sociologia Brasileira, da Sociologia da Cultura e da Sociologia Urbana, da Literatura e dos Meios de Comunicação, discutindo o papel desempenhado por estes na sociedade de massa.

Alguns intérpretes de sua trajetória ressaltam que ao lado de Gabriel Cohn, da USP, Fernando Correia Dias foi também um dos pioneiros no reconhecimento da importância da Indústria Cultural para a legitimação do poder autoritário no período ditatorial (1964-1985).
Interessou-se pelas articulações, pelos encontros e desencontros ocorridos entre intelectuais mineiros e paulistas, cariocas e gaúchos, que construíram uma Intelligentsia empenhada na formulação dos conceitos de tradição e cultura brasileira. Procurava observar a historicidade das narrativas sociais, suas modulações através do tempo, preocupando-se particularmente com as narrativas relacionadas à mineiridade e à nacionalidade.

Professor Fernando tinha um jeito mineiro e silencioso de ser, sempre gostou muito das Minas Gerais. Porém, com igual intensidade gostava do Brasil.

Assim, embora tenha se dedicado com afinco aos estudos relativos à diversidade cultural e intelectual mineira, Fernando nunca deixou de interrogar-se sobre uma totalidade histórica chamada Brasil, em suma, como a Nação foi vivida e interpretada. Era talvez parte dessa legião de intelectuais que procurava a compreensão do universal a partir das particularidades regionais, locais, específicas, onde sabia jamais perderia o senso da exatidão.
Professor Fernando deixa lições de silêncio e sabedoria. Sua atuação acadêmica deixou marcas indeléveis na história da sociologia brasileira.

Foi também poeta, ensaísta, pai, amigo e sobretudo um intelectual de grande generosidade e profunda bondade. Aqueles que o conheceram, que foram seus alunos, assim como eu, tiveram o privilégio de conviver e compartilhar de suas ideias e de desfrutar do convívio com uma pessoa tão peculiar em seu discreto e terno jeito de ser, tão singular quanto o foco de seus estudos e pesquisas.
Ficam aqui registradas a saudade e a amizade de todos aqueles que com ele conviveram, também a admiração e o reconhecimento ao mestre que nos ensinou tantas travessias.

Sugestões de obras do autor

DIAS, Fernando Correia. João Alphonsus: Tempo e Modo. Belo Horizonte: Centro de Estudos Mineiros, 1965.

DIAS, Fernando Correia. O Movimento Modernista em Minas: uma interpretação sociológica. Brasília: EBRASA Editora da Universidade de Brasília, 1971.

DIAS, Fernando Correia. A Imagem de Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1971.

DIAS, Fernando Correia. Líricos & Profetas. Brasília: Thesaurus Editora, 1984.

DIAS, Fernando Correia. Construção do Sistema Universitário no Brasil: Memória Histórica do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Brasília: Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, 1989.

DIAS, Fernando Correia. Perspectivas dos Direitos Culturais no Brasil. In: Jornal do Fórum, Belo Horizonte, v. 2, 1996.