Edmundo Campos Coelho

Por Leonardo Augusto Lopes Rodrigues (LAPES/PPGSA/UFRJ)

A sociologia da burocracia, das profissões e da violência

Edmundo Campos Coelho é mineiro, de Governador Valadares, onde nasceu em 1939. Sua trajetória na Sociologia inicia-se ainda no seu estado natal, com a graduação em Sociologia, Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (1962). Ele, no entanto, passou a maior parte de sua vida profissional no Rio de Janeiro, como professor e pesquisador no IUPERJ (atual IESP-UERJ). Ingressou em 1969 no Instituto que, posteriormente, ele chamaria de sua “única Casa” (Coelho, 1999, p.5). Sua formação inclui, também, o mestrado em Sociologia pela University of California Los Angeles (UCLA) em 1973. Edmundo Coelho morreu em março de 2001, aos 62 anos.

Foi enorme sua contribuição à Sociologia brasileira, através dos anos dedicados à área. Em mais de três décadas como professor no IUPERJ, foram incontáveis os sociólogos que se formaram através das disciplinas e orientações do professor. Sobre suas pesquisas, o pioneirismo e a originalidade são termos comuns nos textos de quem busca qualificar o seu trabalho (Schwartzman, 2001; Freitas, 2001). Nos anos 1960 e 1970, suas principais produções estiveram ligadas às organizações e à burocracia. O primeiro livro foi uma coletânea de textos de Max Weber sobre a burocracia (Sociologia da Burocracia de 1966). Depois, Coelho dedicou-se ao estudo sobre os militares, a partir da abordagem da sociologia das organizações (Em busca de identidade o Exército e a política na sociedade brasileira de 1976). Entre as contribuições dessas obras, destaca-se a introdução, no Brasil, da abordagem weberiana e das teorias organizacionais (Schwartzman, 2001).

Nos anos 1980, a criminalidade passar a ser um tema central para Coelho e culmina no livro A Oficina do Diabo (1987). Seus estudos tornam-se referências para as análises sobre violência e repressão no Brasil. A construção de seu objeto de pesquisa – a organização carcerária – bem como a mobilização teórica na análise, fez com que, mais uma vez, o pioneirismo surgisse como um adjetivo de sua obra (Lima, Ratton, 2011). Nessa mesma época, ele incorpora a universidade e o trabalho acadêmico em seu repertório de análise. O resultado desse trabalho é o livro “A Sinecura acadêmica” (1988). É interessante notar que, nas análises dessa obra, são frequentes as menções às controvérsias que a análise gerou entre seus colegas acadêmicos (Schwartzman, 2001 e Freitas, 2001).

Por fim, o tema das profissões, já presente em suas análises, aparece com maior predominância na parte final de sua vida. Em As Profissões Imperiais percebe-se a culminação das principais características do pesquisador em uma só obra, nas palavras de Simon Schwartzman (2001): “o texto bem escrito, a cultura literária, a amplitude da formação sociológica, a intimidade com a história, a ironia e o sarcasmo com que trata seus personagens e interlocutores.” É unanimidade nas resenhas e análises que o livro se tornou um clássico quase incontornável da sociologia das profissões no Brasil, não só por qualidade na discussão teórica e da pesquisa documental, mas também, pelo cuidado na escrita que contribui para a leitura estimulante (Barbosa, 2000; Schwartzman, 2001).

Sobre a abordagem teórica, destaca-se, por exemplo, a alternativa proposta pelo autor às investigações que relacionavam a autonomia profissional com o grau de interferência do Estado. O resultado é uma análise que dá conta das principais questões teóricas da sociologia das profissões, porém específica para o caso brasileiro. Essa característica é cristalizada na expressão “profissões imperiais”, amplamente utilizada nos estudos sobre as profissões e sobre o ensino superior no Brasil, que indica não só as especificidades da formação dessas profissões no país, como também as particularidades do próprio Estado brasileiro. A saída proposta por Coelho evidencia sua resistência em adotar pressuposições teóricas tidas como cânones e a sua originalidade, notadas por diferentes leitores ao longo de sua trajetória.

Sugestões de obras do autor

Coelho, Edmundo Campos e Max Weber. Sociologia da burocracia. Rio de Janeiro: Zahar. 1966

Coelho, Edmundo Campos. Em busca de identidade o Exército e a política na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1976.

Coelho, Edmundo Campos. A oficina do diabo: crise e conflitos no sistema penitenciário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo/Iuperj, 1987

Coelho, Edmundo Campos. A Sinecura academica – a ética universitária em questão. Sao Paulo: Vértice/Iuperj, 1988.

Coelho, Edmundo Campos. As Profissões Imperiais: Advocacia, Medicina e Engenharia no Rio de Janeiro, 1822-1930. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999.

Sobre o autor

Barbosa, Maria Ligia. Jobim e Quincas chez madame Labat: o imperador e suas profissões, 2000.

Freitas, Renan Springer de. “Edmundo Campos Coelho (1939-2001)”. Dados vol.44 no.1 Rio de Janeiro, 2001.

Lima, Renato Sérgio de; Ratton, José Luiz (Organização). As ciências sociais e os pioneiros nos estudos sobre crime, violência e direitos humanos no Brasil. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Urbania; ANPOCS, 2011. 304 p.

Schwartzman, Simon. “Edmundo Campos Coelho, Sociólogo Radical”. Depoimento na homenagem a Edmundo Campos Coelho, Rio de Janeiro, IUPERJ, 5 de outubro de 2001. Disponível em: http://www.schwartzman.org.br/simon/edmundo.htm#_ftn1