Duglas Teixeira Monteiro

Por Péricles Andrade (UFS)

(Rio Claro-SP, 22 de agosto de 1926-Recife-PE, 25 de setembro de 1978). Foi um dos mais importantes sociólogos da religião do Brasil, na década de 1970, destacando-se como professor de cursos na USP, pesquisador, conferencista e participante em encontros, simpósios e seminários, colaborando de forma significativa na criação de centros de estudo e de uma revista especializada: Religião e Sociedade. Participou ativamente das atividades e dos principais momentos de decisão do Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER).

Duglas Teixeira Monteiro realizou pesquisas a partir do método compreensivo de Max Weber (1864-1920) sobre os messianismos brasileiros, estabelecendo quadro comparativo e interpretativo entre Canudos (1896-1897), Contestado (1912-1916) e Juazeiro (1889), com destaque para sua tese de doutorado que se tornou um dos clássicos da sociologia da religião, embora também se constitua em uma sociologia do meio rústico, intitulada Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado, defendida em 1973 como tese de doutorado em Sociologia na USP e publicada como livro em 1974, que lhe valeu, no ano seguinte, o prêmio “Governo do Estado de São Paulo”. Nessa pesquisa, buscou compreender o comportamento social daquela comunidade no enfrentamento de uma crise global, o que implicou na criação de um universo místico. A abordagem de Duglas Teixeira Monteiro caracteriza o Contestado a partir de três momentos: pretérito, período de relativo equilíbrio, com relações fundamentadas em relações de dominação asseguradas por instituições religiosas e para-religiosas, que garantem a reprodução da ordem; desencantamento, marcada pela crise do mandonismo local, o que implicou no processo de rupturas e seus efeitos; reencantamento, com a resposta a essa crise a partir da constituição da Irmandade do Contestado, comunidade baseada em um universo místico. O autor analisa os elementos ideológicos e os significados dentro deste novo contexto do sagrado. Ainda sobre a temática dos movimentos messiânicos destaca-se o capítulo ”Um Confronto entre Juazeiro, Canudos e Contestado” (1977). A análise conjunta desses movimentos adota uma descrição particularizada de cada episódio, destacando elementos históricos e analíticos gerais. Porém, adota o Contestado como exemplo para análise dos outros dois.

Vale ressaltar que Duglas Teixeira Monteiro, durante sua trajetória acadêmica, partiu inicialmente do mundo agrário na história brasileira para o estudo de ‘surtos’ religiosos atuais de clientela ou de sectarização das grandes cidades: as agências de cura divina, os santuários metropolitanos de devoção de massa e todas as outras experiências sociais de sacralização das relações e dos símbolos das trocas humanas. Deixou reflexões sobre a religiosidade popular brasileira, apontando, entre outros aspectos, a emergência de um ecumenismo religioso de caráter espontâneo. Também desenvolveu reflexões teóricas e metodológicas sobre a religião ao retomar os estudos afro-brasileiros da obra de Roger Bastide.

A atuação profissional de Duglas Teixeira Monteiro está ligada à USP, onde se formou em ciências sociais, fez mestrado (apresentando uma dissertação sobre as condições de desenvolvimento das zonas pioneiras no Norte do Paraná) e doutorado. Porém, seu ingresso na docência ocorreu em 1952 no ensino público paulista, lecionando primeiro na Escola Caetano de Campos e, depois, em sucessivos colégios do interior de São Paulo, em: Lins, Itapeva, São Caetano do Sul e Piracicaba. Sua carreira universitária teve início em 1953, lecionando a cadeira de Antropologia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. Antes de ingressar na USP, lecionou também em Sorocaba. Em 1959, foi chamado por Fernando de Azevedo para a USP como auxiliar de ensino e, depois, como assistente da cadeira de Sociologia da Educação. Entre 1962 e 1967, foi o professor responsável por esta cadeira na então “seção de educação” da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, além de auxiliar de ensino entre 1959 e 1972 e assistente-doutor entre 1973 e 1978.

Na condição de sociólogo, atuou na “organização da classe”. Entre 1968-1975, exerceu a presidência em importantes entidades representativas no âmbito das ciências sociais no Brasil, tais como da Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo (1973-1975), da Associação Nacional dos Cientistas Sociais (1975). Durante vários anos, foi um dos mais ativos participantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em nome de quem organizou reuniões e, dentro delas, dirigiu mesas e simpósios. Exerceu também a presidência do Centro de Estudos da Religião (1973/1975) e dos inúmeros grupos de trabalho, comissões e órgãos colegiados internos e externos à USP, de que participou desde 1953. Exerceu a Coordenação da Comissão Partidária da Congregação da antiga FFCL da USP (1968) e a Representação de suas categorias docentes junto aos órgãos colegiados da FFLCH.

Sugestões de obras do autor

MONTEIRO, Duglas Teixeira. Água da Memória. Rio de Janeiro: Livraria Editora Letras e Artes,1965.

MONTERO, Duglas Teixeira. Os Errantes do Novo Século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. São Paulo: Duas Cidades, 1974.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. Sobre os dois caminhos. Cadernos do ISER, n. 5, novembro de 1976.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. ”Um Confronto entre Juazeiro, Canudos e Contestado”. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo III, O Brasil Republicano, 2.o 1vol., Sociedade e Instituições (1889-1930). Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1977.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. A cura por correspondência. Religião e Sociedade, n. 1, São Paulo, Hucitec, maio de 1977.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. ”Églises Sectes et Agences: aspect D’Un Ecumenisme Populaire”. Diogene, n. 100, Paris, Octobre-Décembre 1977.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. Prefácio de The African Religions of Brasil, de Roger Bastide. Johns Hopkins University,1978.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. Roger Bastide: Religião e Ideologia’. Religião e Sociedade, n.3, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, outubro de 1978.

Sobre o autor

BRANDÃO, Carlos Rodrigues; RICARDO, Carlos Alberto. Duglas Teixeira Monteiro. 1978. Disponível em: http://www.dan.unb.br/images/pdf/anuario_antropologico/Separatas1978/anuario78_duglasmonteiroinmemoriam.pdf . Acesso em 26 de fev. 2021. 15:00.

GIUMBELLI, Emerson. Religião e (Des)Ordem Social: Contestado, Juazeiro e Canudos nos Estudos Sociológicos sobre Movimentos Religiosos. Dados, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, p. 1997. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200004. Acesso em 27 fev. 2021. 16:40.

MACHADO, Paulo Pinheiro. O Centenário do movimento do Contestado – 1912/2012 – História, Memória e Historiografia. S/d. Disponível em: https://www.historia.uff.br/nra/textos/PAULO_PINHEIRO_MACHADO.pdf. Acesso em 10 fev. 2021. 09:00.

NEGRÃO, L. N. Duglas Teixeira Monteiro (1926-1978). Revista de Antropologia, 22, 1979, p.179-181. Disponível em: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1979.110824. Acesso em 20 fev. 2021. 16:00.

PEREIRA, Flávia R. Borges. Os errantes do novo século – um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. Revista De Antropologia, n. 23, 1908, p. 191-193. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/110880/109268. Acesso em, 28 fev. 2021. 11:34.

POMPA, Cristina. A construção do fim do mundo. Para uma releitura dos movimentos sócio-religiosos do Brasil “rústico”. Rev. Antropol., São Paulo , v. 41, n. 1, p. 177-211, 1998 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77011998000100006 . Acesso em 15 fev. 2021. 10:00.