Carlos Benedito Martins

Por Amurabi de Oliveira (UFSC)

Carlos Benedito Martins nasceu em 27 de abril de 1948 em Itaberaí, Goiás, tendo se mudando ainda criança para Goiânia onde realizou sua formação escolar. O golpe militar de 1964 ocorreu quando ainda estava cursando o “clássico”, tendo participado ativamente das atividades do movimento estudantil. Matriculou-se em Ciências Sociais ainda em Goiânia, mudando-se posteriormente para São Paulo onde ingressou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) para dar continuidade ao curso, concluído em 1971.

Iniciou sua atuação como professor ainda em 1972, ingressando no ano seguinte no mestrado em Ciências Sociais, que recém havia sido criado pela PUC, e defendeu a dissertação “A empresa cultural no Brasil” (1979), orientada por Maria Andrea Loyola, que acabara de regressar da França, orientanda de Alain Touraine em seu doutorado. Sua dissertação de mestrado, na qual pesquisou as Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), foi um dos estudos pioneiros no Brasil sobre o ensino superior privado, segundo ele por influência de Maurício Tragtenberg (1929-1998). Nesse período em que esteve vinculado à PUC-SP teve também um intenso contato com Florestan Fernandes (1920-1995), resultando em importantes trocas intelectuais, tanto que Florestan Fernandes prefaciou a segunda edição de seu livro “Ensino Pago: Um Retrato Sem Retoques” (1988).
Foi ainda através de Maria Andrea Loyola que Carlos Benedito entrou em contato com o grupo de trabalho de Pierre Bourdieu (1930-2002) para a realização de seus estudos doutorais. Naquele momento Bourdieu já se encontrava vinculado ao Collège de France, de modo que a orientação de sua tese ficou sob a responsabilidade de Viviane Isambert Jamati (1924-2019), que orientou inúmeros brasileiros no campo da Sociologia da Educação. Participou dos chamados “séminaires fermé” organizados por Bourdieu, tendo ainda um intenso contato com Monique de Saint-Martin, uma das principais colaboradoras de Bourdieu no campo da Sociologia da Educação e outros pesquisadores daquele centro.

Na Universidade de Paris Descartes, Paris V, defendeu a tese Le Nouvel Enseigmnent Superieur Privé au Brésil (1986), um marco significativo para o debate da sociologia da educação no Brasil e para a sociologia do ensino superior em particular, campo no qual desempenhou um papel fundamental em seu processo de institucionalização. Isto se evidencia em sua atuação no Grupo de Trabalho (GT) Educação e Sociedade da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), posteriormente no GT Configurações do Ensino Superior Contemporâneo, também junto à ANPOCS, e no GT Educação Superior na Sociedade Contemporânea, atual Comitê de Pesquisa 21 Sociedade e Universidade junto à Sociedade Brasileira de Sociologia.

Em período mais recente passou a se dedicar ao debate sobre a Sociologia da Sociologia, articulando a questão nacional com os desafios globais, na ANPOCS, na SBS, e na International Sociological Association (ISA), sendo integrante do comitê editorial da Current Sociology. Sua inserção internacional pode ainda ser atestada pela sua intensa atuação em universidades estrangeiras, tendo realizado pós-doutorado na Universidade de Colúmbia, e atuado como Visiting Scholar na Universidade de Oxford, na Universidade de Columbia, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, na Universidade Livre de Berlim, na Universidade de Hong Kong, na Universidade Nacional de Singapura e, por diversas vezes, na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris.

No Brasil atuou como membro da diretoria da ANPOCS, tendo coordenado a publicação dos três volumes da coletânea Horizontes das Ciências Sociais (2010). Foi membro da diretoria, Vice-presidente e Presidente da SBS (2015-2019), membro do Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o Plano Nacional de Pós-Graduação da CAPES (2005-2010), membro do Comitê de Avaliação na Área de Sociologia, e do comitê de Avaliação dos Projetos CAPES/COFECUB (1995-2005). Recebeu em 2020 o prêmio Antônio Flávio Pierucci de excelência acadêmica em Sociologia da ANPOCS. Professor titular da Universidade de Brasília orientou diversas teses, dissertações e estágios pós-doutorais no Programa de Pós-Graduação em Sociologia, onde atua como professor permanente, coordenando ainda o projeto Capes-Cofecub (2020/2023), denominado Globalização das sociologias francesa e brasileira: agentes, instituições, temáticas, em parceria com a École Normale Supérieure Paris-Saclay, além de pesquisador produtividade e pesquisa junto ao CNPq

Sugestões de obras do autor:

MARTINS, Carlos Benedito. Ensino Pago: Um Retrato Sem Retoques. 2. ed. SÃO PAULO: Autores Associados, 1988.

MARTINS, Carlos Benedito. Para onde vai a Pós-Graduação em Ciências Sociais no Brasil. 1. ed. Bauru: Edusc, 2005.

MICELI, Sergio; MARTINS, Carlos Benedito. (Org.). Sociologia Brasileira Hoje. 1. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2017.

MICELI, Sergio; MARTINS, Carlos Benedito (Org.). Sociologia Brasileira Hoje – Vol.2. 1. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2018.

MARTINS, Carlos Benedito. A Reforma Universitária de 1968 e a abertura para o ensino superior privado do Brasil. Educação & Sociedade, v. 30, p. 15-35, 2009.

MARTINS, Carlos Benedito. A sociologia e suas Interfaces com contextos local, nacional e global. Sociedade e Estado, v. 33, p. 337-347, 2018.

Sobre o autor:

OLIVEIRA, Amurabi. A Sociologia Brasileira e seus Desafios: entrevista com Carlos Benedito Martins, Política & Sociedade, v. 18, n. 41, p. 13-26, 2019.