Alba Maria Zaluar

Por Leonardo Fontes
IPP-Cebrap

Alba Maria Zaluar nasceu na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, em 2 de junho de 1942. Concluiu sua graduação em Ciências Sociais na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1965. Com o golpe militar de 1964, Alba viu-se obrigada a deixar o país após a instauração de um Inquérito Policial Militar envolvendo seu nome por conta da militância política naquele período.
Entre 1966 a 1971, viveu em Manchester, na Inglaterra, onde frequentou cursos de pós-graduação em Sociologia e Antropologia Social, quando teve contato com importantes autores do campo como Max Gluckman, Clyde Mitchell e Peter Worley. De lá, além das discussões teóricas envolvendo o estudo das redes sociais e associações vicinais, Alba trouxe consigo a forte preocupação com a pesquisa empírica.

Ao retornar ao Brasil, cursou o mestrado no Museu Nacional do Rio de Janeiro (PPGAS/UFRJ) e defendeu uma dissertação sobre religião popular, sob orientação de Roberto DaMatta, em 1974. Em 1979, ingressou no doutorado do Programa de Antropologia Social da USP, sob a orientação de Eunice Durhan. Nesse período, além do aprofundamento da formação antropológica – a partir do convívio com importantes antropólogos brasileiros como a própria Eunice Durhan, Ruth Cardoso, José Guilherme Magnani e Teresa Caldeira –, Alba aprimorou seus conhecimentos em torno de conceitos da Ciência Política, que lhe permitiram articular teoricamente as relações entre os processos sociais e culturais com a discussão sobre o futuro do Brasil e a redemocratização.

Sua tese de doutorado, defendida em 1984, e transformada em livro no mesmo ano, segue viva como referência fundamental para os estudos sobre pobreza e violência urbana. A escolha de Cidade de Deus como local para a realização de sua etnografia se deu pelo interesse midiático que havia sido despertado em decorrência dos primeiros conflitos armados envolvendo traficantes de drogas dos quais se tinha notícia na cidade do Rio de Janeiro e, especialmente, pelas organizações vicinais que surgiam naquele momento nos conjuntos habitacionais criados na região.

Como boa etnógrafa, Alba foi levada pelos acontecimentos que observou durante a pesquisa de campo a se debruçar sobre temas que transitavam da violência urbana ao relacionamento dos moradores com os políticos em período eleitoral, passando pelo tráfico de drogas, pela formação de associações de moradores e de blocos de carnaval.
Seus estudos assinalaram também a concepção negativa do trabalho entre as classes populares – cristalizada na ideia de “ética do provedor” que se contrapunha à “ética do trabalho”. Alba apostava ainda no potencial de associações vicinais – a exemplo de Escolas de Samba – como importantes agências de socialização secundária a partir dos quais seria possível construir uma sociabilidade pacífica e democrática.

Além do pioneirismo no apontamento da oposição moral entre “trabalhadores” e “bandidos”, seus estudos ofereceram importantes contribuições em torno da questão da masculinidade nas classes populares – que antecipa debates importantes sobre gênero –, trazendo à tona temas como a honra, o revanchismo, a disposição para matar e a estrutura de governança das associações criminosas para o entendimento da lógica da violência nas cidades brasileiras.


Em meados da década de 1970, Alba passou a lecionar no Departamento de Antropologia da Unicamp, onde defendeu, em 1991, a Livre Docência com a tese, publicada em livro em 1994, Cidadãos não vão ao Paraíso. Em seguida, ela se aposentou da Unicamp e ingressou como docente de Antropologia no Instituto de Medicina Social da UERJ, tendo se tornado Professora Titular, em 1995, pelo Departamento de Ciências Sociais do então Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), hoje Instituto de Ciências Sociais (ICS).

Alba sempre adotou uma postura de intelectual pública e não se furtou a se posicionar sempre que considerava necessário. A partir da década de 1990, a relação entre segurança pública e democracia no Brasil – que ela mesma denominava de “paradoxo da democracia brasileira” – levou-a a conduzir diversas pesquisas quantitativas e qualitativas sobre políticas públicas que visavam combater a violência urbana e minimizar os efeitos da criminalidade.

Alba seguiu ativa academicamente até o fim de sua vida, em dezembro de 2019, orientando e lecionando nos cursos de pós-graduação do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e escrevendo artigos e livros. Ao longo de sua vida, ela orientou mais de 40 trabalhos de pós-graduação, entre mestrados e doutorados, e publicou sozinha ou em coautoria mais de 70 artigos acadêmicos, mais de uma dezena de livros, cerca de 50 capítulos de livros e mais uma centena de artigos e entrevistas em jornais e revistas de circulação nacional.

Sugestões de obras da autora

ZALUAR, A. M. (2002) A Máquina e a Revolta: as organizações populares e o significado da pobreza. 3a.. ed. São Paulo: Editora Brasiliense.
ZALUAR, A. M. (1994) Cidadãos não vão ao Paraíso. Campinas: Editora da UNICAMP e Editora Escuta.
ZALUAR, A.; FREITAS, L. A. P. (2017) Cidade de Deus: a história de Ailton Batata, o sobrevivente. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV Editora .
ZALUAR, A. M. (2004). Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
ZALUAR, A. M.; ALVITO, M. (Org.). (2003). Um Século de Favela 2a. edição. 3a. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV.